segunda-feira, 28 de julho de 2008

Entrevista com Petrônio Gontijo


Petrônio Gontijo sempre se interessou por heróis de ficção científica e histórias em quadrinhos sombrias. Mas jamais imaginou que um dia fosse interpretar um policial sanguinário que mescla referências de personagens de filmes do gênero "noir" com o estilo futurista do longa Matrix. Na pele do ambicioso Fredo, chefe de operações do Depecom, em Os Mutantes, o ator mergulhou em pesquisas de longas como Sin City, de Robert Rodriguez e Frank Miller.

Apesar de ser o terceiro vilão da carreira do mineiro nascido em Varginha há 40 anos, as cenas de Fredo são novidades para o ator. Em 17 anos de carreira na TV, desde que estreou como o protagonista de Salomé, na Globo, Petrônio nunca havia interpretado um personagem que vivesse cenas de ação.

"Há muita adrenalina nas gravações com metralhadora na mão, com metade do corpo para fora do carro. Isso tem me dado outra atitude como ator", empolga-se.

Além de espalhar fotos do longa Sin City pelo flat onde mora, no Recreio, na zona Oeste carioca, Petrônio tem escutado incessantemente os acordes modernos e dissonantes do compositor russo Sergei Prokofiev para rechear o personagem de informações visuais e sonoras.

"Ele é conturbado como o Fredo. Justamente para esse personagem que é o mais rock'n'roll da minha carreira, fui escutar um clássico para entendê-lo", diz o ator, que sempre costuma compor personagens inspirados em canções. "Sempre 'linko' o papel com músicas dos Beatles, Led Zeppelin ou alguma banda inglesa que adoro."

Apesar de falante, Gontijo não consegue disfarçar uma típica desconfiança enquanto conversa. Mas consegue se desprender da timidez ao contestar as atitudes de Fredo. Na pele do vilão, que é a favor do extermínio de todos os mutantes, inclusive os do bem, ele chega a se revoltar com as atitudes de Fredo. "É como aquelas pessoas que acham que bandido bom é bandido morto. Esse personagem traz à tona essa discussão", acredita.

No entanto, o que mais tem fascinado o ator na história de Tiago Santiago é o cuidado que a direção da novela tem tido com as seqüências de efeitos especiais. Apesar da incontestável semelhança da trama com obras trash, Gontijo ressalta que, em seu primeiro dia de gravações, passou nove horas gravando apenas três cenas em estúdio.

"O diretor parou o estúdio e dedicou três horas para cada cena que eu faria. Cuidado assim só se vê em cinema", elogia.

A empolgação do ator se justifica ao lembrar que ele conheceu o esquema de produção da Record em 2000, quando atuou em Vidas Cruzadas como Zé Carlos. Naquela época, a emissora ainda não se dedicava com afinco a se destacar na teledramaturgia.

"Hoje, saio dos estúdios e vejo que a Record parece Brasília. É praticamente uma cidade em construção", exagera Gontijo, que virou uma espécie de facínora da ficção científica para o público infantil. "Saio nas ruas e tem criança que pinta duas bolas no pescoço como se fossem mordidas, se joga no chão e grita: 'me mata porque sou um mutante'", diverte-se.

Com contrato até 2011 na Record, Petrônio se anima em ter dado um tempo nos mocinhos que marcaram sua carreira, como o próprio Tom, o advogado paternal de Luz do Sol, ou o Torquato de Essas Mulheres, ambas na Record.

Além de ter começado a viver vilões de perfis bem diferentes, o ator acredita que está em ótima forma física para dar cada vez mais fôlego às cenas de tiroteios e grande perseguições. Graças à corrida de 40 minutos que pratica em média três vezes por semana.

"Só me toquei que estava preparado fisicamente para um personagem desses quando comecei a gravar e não perdi o pique nas cenas mais cansativas", orgulha-se.


Inspiração cinematográfica
Petrônio Gontijo fez pouquíssimos filmes em sua carreira, mas cada construção de personagem na TV ou no teatro foi pautada em longas pelos quais o ator se apaixonava.

A primeira referência dele como ator foi quando assistiu ao suspense Veludo Azul, de David Lynch, aos 18 anos de idade. "Disse: é isso que quero fazer na vida, com essa estética, esse figurino, essa luz. Isso mexeu comigo", lembra.

A partir daí, as influências cinematográficas tomaram conta de seu imaginário em composições.

A paixão pela telona só não se concretizou com um rol de personagens de peso. Afinal, até hoje ele só fez duas participações no cinema. Foi em Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 2001, como o personagem-título na juventude, e em Boleiros II, de Hugo Giorgetti, em 2005.

"Sempre tive muitos convites, mas sempre quando estava gravando alguma novela", lamenta.

Como não conseguiu conciliar as duas mídias, Gontijo agora sonha com seu próximo projeto no teatro: um monólogo com poesias do poeta Ferreira Gullar.

O ator escolheu 21 textos do livro Dentro da Noite Veloz, que fala sobre a noite em que Che Guevara foi capturado. A peça estréia no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, até o final deste ano.

"A obra marca a fase em que o Gullar deixou a poesia concreta e disse que deveria escrever para o povo. É o livro mais político e com os mais belos poemas de amor."



Instantâneas
# Petrônio Gontijo se formou em Artes Cênicas pela Unicamp
# O ator atuou em peças de diretores reconhecidos no teatro, como Fauzi Arap, Juca de Oliveira e José Possi Neto
# Sua última peça de sucesso foi Pequenos Crimes Conjugais, de Eric Emmanuel Schmitt, em 2006, onde contracenava com Maria Fernanda Cândido
# Para compor o personagem Tom, em Luz do Sol, onde fazia par romântico com Paloma Duarte, Gontijo gravou CDs com músicas como Help, dos Beatles, e Gostava Tanto de Você, do Tim Maia. "Era a cara do personagem", justifica.




Fonte: Terra
Matheus Logan

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