segunda-feira, 12 de maio de 2008

Biografia de Preta Gil




Eu nasci no Rio de Janeiro, sou carioca, no dia 08 de agosto de 1974. Foi o máximo, essa história todo mundo conta na família, porque o meu pai foi ao cartório, me registrar, com a minha avó materna, a vó Wangri, minha avó branca, que é mãe da minha mãe. Chegando lá o tabelião falou: “Você não vai poder registrar o nome de sua filha de Preta”. Imagina! Vocês conhecem meu pai, sabem que ele gosta de falar e já começou a fazer discurso. "Mas por que? Existem Biancas, Brancas, Claras, Rosas e não pode ter Preta?" E o tabelião disse: "Tudo bem, você vai botar Preta, mas só se botar um nome católico junto." Então eu me chamo Preta Maria por conta do tabelião.
Eu não estudava e assistia muito à televisão. Gostava muito de assistir "Mulher Maravilha", eu amaaaaava, não entendia nada de inglês, mas aquilo me impressionava. Eu pedi para minha mãe comprar uma fantasia de Mulher Maravilha. Ela comprou... Pedi um patins também. Eu dormia com a roupa de Mulher Maravilha, acordava com a roupa de Mulher Maravilha e com o Patins!!! E tinha o efeito, né? Eu virava a Mulher Maravilha no patins, girava e virava.... Uma louca... E isso foi um caos porque eu rasgava todas as minhas roupas, os vestidinhos que a minha avó fez de renda, da Bahia... Tive que botar velcro. Eu me lembro da minha mãe costurando velcro em todas as minhas roupas para eu não rasgar, e foi aí que eu comecei a descolar o velcro (risos)...
Eu morei no Rio até um ano de idade, depois a gente foi para salvador. Minha mãe logo depois teve outra filha, chamada Maria, e eu achei pouco criativo pra falar a verdade. Eu já tinha um irmão mais velho, o Pedro, que tinha nascido em Londres, na época do exílio. Meu pai foi exilado junto com o Caetano na época da ditatura. Aquilo foi um caos na minha família... Eu gosto de contar essa história porque isso reflete muito quem é a minha avó. Minha avó, é mãe da Sandra, minha mãe, e mãe da Dedé, mulher do Caetano. Então nessa época que eles foram exilados, ela tinha duas filhas casadas com dois loucos! As duas foram exiladas, foram morar em Londres, e minha avó, eu sinto muita admiração por ela por isso, porque ela sempre segurou essa onda.
Desde criança eu tenho uma imaginação muito fértil. Eu tinha essa cachorrinho imaginário, quando eu tinha cinco anos. Meu pai foi fazer um disco em Los Angeles com o Sérgio Mendes. Nossa família foi morar lá oito meses. Toda a trupe. Minha mãe que fala: "Chegou o navio negreiro!", ela e os filhinhos pretos. E ela conta que na rua as pessoas perguntavam se ela estava com os filhos das empregadas. Porque a minha irmã Maria tem o cabelo 'dum-dum', o Pedro também e eu liiisa (risos), eu era a índia, tanto é que eu meu apelido de criança era 'Filipina'. Caetano me chamava de Filipina.
Estava no Rio de Janeiro no auge dos anos 80. Bombando, Blitz, Paralamas, Barão Vermelho, Lulu Santos. Tinha tanta coisa boa que acontecia. Essa coisa da música nos anos 80 era algo muito gritante. Tinha o Circo Voador, que tinha show todo fim de semana, que eu, como boa filha de artista, vivia nos bastidores, nos camarins, via tudo aquilo acontecer. Isso tudo me deixava alucinada, amava esse ambiente, me sentia confortável. Palco era uma coisa que me atraia muito. Toda vez que eu ia em show do meu pai, quando chegava no bis, que eu sabia que ele já tinha feito a parte dele, ele nem me chamava, mas eu e meu irmão subíamos lá. Ele ia pra percussão e eu já ia pro lado da minha irmã Nara, que era backing vocal do meu pai, e já ficava cantando... Metida, né?
Eu queria ser chacrete e todo sábado tinha gravação no teatro Fenix, no Jardim Botânico. Meu pai, nessa época estava estourado nas paradas, meu tio Caetano, minha madrinha Gal, alguém da família sempre ia no Chacrinha! E eu falava: “Mãe, fala pro tio para eu ir, pai, deixa eu ir.” Eu vivia no Chacrinha. Lembro que entrava no camarim dele, aquele camarim cheio de coisas e balagandans, e achava que ele era a Carmem Miranda homem. Eu sentava no colo dele, beijava ele, ele me amava. Começava aquele programa, as luzes, a platéia, eu ficava num cantinho e aí entravam todas as bandas que naquela época eu amava, tanta coisa boa. Amava Elke Maravilha, que era jurada Fui criada nesse ambiente dos anos 80, muito efervescente, muita cor cítrica, muita calça semi-bag. (risos)

E ali, nos anos 80 ainda, eu resolvi que eu ia ser atriz, e que ia estudar porque seria atriz e cantora. Eu achava que dava para ser as duas coisas, mas eu queria mais ser atriz, porque eu já era (risos), eu já tinha o meu maiozinho de oncinha, já fazia meus números para os meus irmãos, que odiavam! Eles falavam: "Ai, essa menina é muito metida!”. E eu fazia showzinho para a Gal, que é minha madrinha. Imitava ela, para ela. Quando ela chagava em casa e eu já botava "oh balancê, balancê...". A louca. Ela me levava boá, me levava roupas dela. Imitava a Rita Lee, Elba, amava Elba, ia a todos os shows dela.
Amora, filha do Jorge Mautner, é minha melhor amiga. E criança tem sempre competição. Um dia, quando a gente era criança, ela chegou em casa com uma boneca incrível que o Mautner viajou para não sei onde e trouxe pra ela. E eu não tinha uma boneca igual. Fiquei mal, arrasada, uma inveja horrorosa. Eu queria porque queria aquela boneca, mas orgulhosa, não falava nada. E ela ficava andando com aquela boneca e eu com ódio dela. Uma hora ela virou pra mim e disse: "Eu tenho essa boneca e você não tem!", e eu disse "Ah é, mas o meu pai fala com Deus e o seu não! Estava no auge da música “Se Eu Quiser falar com Deus”, e eu realmente achava que ele falava!"

Preta Gil












Matheus Logan

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