sábado, 23 de agosto de 2008

Entrevista com Natasha Haydt, que viveu a Paola


Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Natasha Haydt deu por si na cama transformada em uma imensa serpente. Assustada, remexia-se violentamente e cortava o ar com a extremidade oposta à cabeça, como se fosse um chicote. Já não podia separar as pernas. Seu corpo era uma única estrutura perdida entre duas peças de roupa. As outras todas, tênis, calça e camiseta “de pivete”, como ela mesma costuma descrever o estilo pessoal, estavam jogadas no chão. A pele havia ganhado um brilho jamais visto e um colorido uniforme e avermelhado, cuja textura ficava entre o veludo e o couro. Percebeu-se úmida e dotada de uma sensibilidade tamanha que todo o seu corpo sentia uma necessidade imensa de se enroscar em alguma coisa. Não havia nada por perto. Enrolou-se no próprio corpo durante alguns minutos e descobriu que podia deslizar em espiral ao redor de si mesma com facilidade, como quando treinava ginástica olímpica na escola. Experimentou sensações que nunca ousou alcançar, até sentir um repentino calor, que percorria o corpo todo em forma de ondas, muito lentas, até a região da nuca. Sentiu falta do suor. Em sua cabeça de humana transpirava freneticamente, mas não havia uma só gota salgada sobre a pele. Nem ao menos havia poros.

“Onde é que estão as minhas mãos?”, pensou.
Parou por alguns minutos e tentou compreender suas novas formas. Fechou os olhos, como se aquilo pudesse desaparecer com a força do pensamento. Nada. Tentou estender a cabeça em direção ao teto, mas seu corpo perdeu-se entre os finos lençóis de linho branco e a lingerie transparente com a qual dormia naquela noite. Ficou com medo de que os pais, no quarto ao lado, escutassem um ruído estranho. Ensaiou um rastejar muito lento e sinuoso e lembrou dos movimentos da dança do ventre que costumava ensaiar nas aulas de teatro, da qual foi expulsa duas vezes, depois de brigar com os professores.

Conseguiu chegar até o pé da cama, e diante da parede na qual havia um espelho, tornou a tentar se levantar. Empregou toda a força que podia, movendo-se de um lado para o outro, e quando finalmente encontrou sua imagem no espelho, entendeu que não era uma simples mortal. Respirou profundamente e encontrou-se ali, nua, dona do antigo corpo irretocável completamente tomado por gotículas de suor. Conferiu as longas pernas. As curvas continuavam no mesmo lugar. Com as mãos livres, tocou a própria pele, corou as maçãs do rosto e perdeu-se em um turbilhão de sentimentos que se transformou em poder e em seu maior segredo. Já não era apenas uma. Metade era pecado, a outra, tentação.



Como foi “interpretar” uma cobra?
Quando fui chamada para fazer a novela, não sabia que ia ter que me transformar em cobra. Li o roteiro e senti um medo desesperador. Como é que eu ia me transformar naquela coisa sem braços, sem pernas, que rasteja? Fui conversar com o diretor e ele me ajudou muito. Me fez ver que havia uma dor, um conflito interno e muito sentimento embutido nessa transformação. Depois do ensaio eu fiquei muito dolorida, mas a cena ficou linda.


A novela é a sua primeira vez na TV?
Sim, mas eu já havia feito cinema. Participei de Sexo com amor?, do Wolf Maia.


O que mudou da sua vida de modelo para a de atriz?
Pude engordar um pouco. Eu parecia uma doente, era puro osso [risos]. Depois que entrei para o cinema avisei a minha agente que não era nem para me chamar para testes de comerciais. Queria me dedicar totalmente à dramaturgia. Sou muito ansiosa, vou fundo nas coisas. E agora é isso.


Você chegou a morar em outros países para modelar?
Nunca quis. Alguma coisa me dizia para não ir. Eu moro com meus pais no Rio de Janeiro. Namorei sério dos 17 aos 21 anos. Não era a hora. Tentei morar em São Paulo durante um mês e foi a pior experiência da minha vida. Era um teste atrás do outro, o dia todo. Um mercado cruel, uma competição terrível. Desisti e voltei para o colégio. Mas o diretor não gostou muito das minhas faltas e me reprovou.


Você já namora outra pessoa?
Não. Ele foi uma paixão avassaladora. Meu primeiro e único namorado e que hoje é um grande amigo. Mas era muito ciumento. Cada beijo que eu tinha que dar em um modelo era uma briga enorme. Aí ele teve vontade de morar fora e nossas vidas tomaram rumos diferentes. Mas quem sabe um dia... talvez... no futuro...


E você não é ciumenta?
Muito, muito. Eu jamais namoraria um ator. Quando começo um relacionamento, já aviso logo que meu trabalho tem dessas coisas. Pergunto: vai agüentar? Porque se não for, vê se recua logo. Porque às vezes recuar é a melhor estratégia. Antes de se apaixonar.


Nunca se apaixonou novamente?
Totalmente não. Às vezes eu estou com alguém e falo: ai, cara... tô me apaixonando... E eles não acreditam. Olham pra mim e fazem: “Hum.... hum... Tá bom!”. E aí gonga tudo.


Você acha que os homens ficam intimidados com você?
Ficam muito inseguros. Eu sou uma pessoa que entra na balada e em meia hora já estou amiga de todo mundo. Eu falo mais que a boca, troco telefone e saio do lugar chorando porque tenho que me despedir. Deve ser difícil pra eles, né?


Você sonha em casar, ter filhos, tudo certinho?
Quero casar, mas filhos, de jeito nenhum. Vou botar filhos neste mundo pra quê?



Crédito: Revista Trip
Matheus Logan

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