No entanto, nos últimos tempos, até personagens do folclore brasileiro, como a mula-sem-cabeça, começaram a fazer parte do imaginário do autor e a perambular entre zumbis, robôs, dinossauros e uma profusão de vampiros, que se multiplicam ao atacar pescoços desavisados. Inclusive de mutantes.
O que poderia até ser uma discussão sobre a presença cada vez mais freqüente de personagens com superpoderes na TV e no cinema, se transformou num produto que realmente não se pode levar muito a sério. Uma espécie de festa dos horrores do universo fantástico do autor.
Para sustentar as mirabolantes invenções de uma trama com estes artifícios, os efeitos especiais são o único meio de chamar atenção. E, apesar desse recurso não ser da melhor qualidade em boa parte das seqüências, é louvável a determinação do diretor Alexandre Avancini em se desdobrar com tomadas que exigem horas e horas de dedicação e cenas que muitas vezes necessitam de um dia inteiro de trabalho para irem ao ar em apenas dois minutos.
Mas, justamente na cena da transformação da Juli, vivida por Babi Xavier, em Dra. Júlia, a personagem de Ítala Nandi, responsável por todas as mutações genéticas da história, não houve efeitos especiais. Um corte simples no rosto de Babi e a seqüência da atriz já como Ítala Nandi indicaram uma falha grotesca numa das cenas mais relevantes do folhetim.
O que também não parece ser tão importante é a preocupação da direção com a interpretação de papéis de maior destaque da história, como a robotizada atuação de Bianca Rinaldi como a vilã Samira. A atriz apenas distingue a personagem do mal com sua mocinha Maria apertando ainda mais os olhos nas cenas de maldade e balbuciando palavras sussurradas, numa constrangedora ausência de recursos cênicos.
Se a protagonista atua dessa forma, nada surpreendente se pode esperar dos novatos que se multiplicam em papéis mutantes mostrando os dentes ou fazendo cara de mau. O conjunto da história parece só se salvar diante da ótica infantil, pois as crianças ficam hipnotizadas pelos movimentos dos heróis às avessas brincando como se estivessem num permanente dia das bruxas.
O clima soturno é o que mais se destaca na trama. Cenas escuras gravadas em externas noturnas, uma iluminação difusa, figurinos sombrios, dentes pontiagudos e litros de sangue cenográfico dão um ar vampiresco que até Nosferatu - personagem baseado no clássico romance Drácula, de Bram Stocker - poderia se sentir aconchegado. Mesmo assim, a música de fundo dificilmente se harmoniza com esse ar quase fúnebre.
O constante áudio deixa de ser impactante nos momentos de maior suspense, pois é permanente em quase todas as cenas. Muitas vezes só é interrompido com bizarras frases feitas de alguns personagens, como: "Acreditem na confiança do bem, na força do amor e da paz", ou "Vamos usar nossos poderes para ultrapassar nossos limites", seguido ainda de expressões em inglês e suas traduções, que chegam até a dar um tom cômico à trama, como "I Want to be free, eu quero ser livre".
Nessas horas, até o mais pálido dos vampiros deve ficar rubro de vergonha de estar em cena. Os Mutantes - Record - De segunda a sábado, às 21h30min.
creditos:site terra
daniele de oliveira
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