quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A máquina de fazer mutantes

Supervisor de efeitos visuais da novela Os Mutantes, da Record, Marcelo Brandão recebeu uma encomenda na segunda-feira passada, quando jantava na emissora. A pedido do diretor Alexandre Avancini, sua equipe terá de criar um robô para a história. "Ele disse: ‘Pense numa coisa meio C-3PO, meio Eu, Robô’", conta Brandão (as referências são o andróide da série Guerra nas Estrelas e os robôs do filme de Will Smith). Na rotina de Brandão, tarefas ambiciosas como essa são tratadas como se fossem banais já faz algum tempo. A Record descobriu as mil e uma utilidades dos mutantes com o folhetim Caminhos do Coração, cuja audiência se sustentava graças ao apelo desses personagens com crianças e adolescentes. Sua seqüência, que estreou faz alguns meses, vai mais longe. Quando Caminhos começou, contabilizavam-se dez mutantes e quarenta humanos. Agora, as criaturas são maioria: há 41 delas, contra 33 humanos. E o turbilhão criativo do noveleiro Tiago Santiago não dá sinais de esmorecer. Na trama anterior, ele transformou a ex-miss Natália Guimarães numa mulher-aranha com patas peludas e disposta a procriar com um homem-cobra? Pois a nova já exibiu um ataque de lobisomens nas ruas de São Paulo e a cidade sendo destruída por uma explosão atômica, no sonho de uma personagem.

Nunca uma novela foi tão longe no uso da computação gráfica e dos efeitos especiais. Mas a Record paga um preço por se aventurar nesse terreno sem experiência – e com a pretensão de copiar, logo de cara, expedientes do cinema americano. Apesar dos altos investimentos (só um dos equipamentos, o Inferno, custou 2 milhões de reais), sua estrutura ainda é pequena perto da que se utiliza para produzir um filme ou uma série nos Estados Unidos. Enquanto por lá uma produção dispõe de milhares de estações de trabalho em 3D para processar os efeitos com o máximo de realismo, a Record só tem seis computadores. É neles que se criam personagens virtuais como o velociraptor da trama. Ele é um primo pobre daqueles que se vêem no sucesso Jurassic Park: tem o aspecto de um boneco e movimentos artificiais. Há que reconhecer que o time de efeitos visuais se esforça: os vinte profissionais revezam-se em turnos ininterruptos para extrair o máximo dos equipamentos.

Eles enfrentam ainda uma batalha contra o tempo. Num seriado americano, produzem-se cerca de vinte episódios por ano. Sobra tempo para refinar os efeitos. Na linha de montagem de uma novela diária, é preciso pôr dez novas seqüências pirotécnicas no ar a cada capítulo. Em condições assim, é compreensível que se descambe para o mambembe. "Somos como uma padaria funcionando a pleno vapor: num dia o pãozinho sai quente, no outro fica murcho", diz Brandão. Para sobreviver na selva mutante, a equipe criou gambiarras. A certa altura de Caminhos do Coração, a missão era dar vida a um sapo gigante. Chegou-se a pensar numa versão virtual do bicho. Mas, como o prazo era curto, o jeito foi filmar um sapo de verdade e depois ampliar sua imagem.

A equipe de efeitos visuais dobrou de tamanho desde o início de Caminhos do Coração. A novela é um belo desafio para esses profissionais. "A gente se diverte", diz Brandão. Mas ter de fazer tanto com tão pouco também causa stress. Um técnico já pediu o chapéu por não agüentar a pressão. Não é para menos. Uma seqüência como a batalha dos lobisomens da estréia de Os Mutantes leva seis meses para ser feita nos Estados Unidos ou na Europa. Na padaria virtual da Record, saiu em uma semana.

Clique na imagem, e veja como faz alguns efeitos especiais da novela.






Crédito: Veja
Matheus Logan

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