segunda-feira, 23 de junho de 2008

Biografia de Ítala Nandi

Ítala Maria Helena Pellizzari Nandi (Caxias do Sul RS 1942). Atriz. Criadora de protagonistas femininas no período do Teatro Oficina, Ítala Nandi torna-se primeira atriz da fase tropicalista, também atuante no cinema nacional.

Inicia-se no teatro amador em sua cidade natal, participando de Um Gesto por Outro, de Jean Tardieu, em 1959, e A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, no ano seguinte. Em 1960, integra um elenco semiprofissional, na montagem de O Despacho, texto e direção de Mário de Almeida, em Porto Alegre. Faz uma breve participação em O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, na montagem de Fernando Torres para o Teatro dos Sete. Casa-se com Fernando Peixoto e ambos, em 1962, vêm para São Paulo. Integra-se, na condição de administradora, ao Teatro Oficina. Sua estréia na companhia ocorre inesperadamente, substituindo Rosamaria Murtinho em Quatro Num Quarto, de Valentin Kataev, grande sucesso de 1962. Assídua freqüentadora das aulas de interpretação que Eugênio Kusnet promove no teatro, Ítala está no elenco da estréia seguinte: Pequenos Burgueses, em 1963, direção de José Celso Martinez Corrêa para o texto de Máximo Gorki. Nas sucessivas remontagens, interpretará quatro diferentes papéis na peça.

Na condição de administradora, cabe-lhe capitanear o teatro, em 1964, quando do golpe militar. Ocasião em que José Celso, Fernando Peixoto e Renato Borghi são obrigados a se esconder. Ela produz e interpreta Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera, despretensiosa
comédia de Gláucio Gill, em direção de Benedito Corsi, para despistar a vigilância sobre o teatro.

Volta à cena, em 1965, em Os Inimigos, de Máximo Gorki, numa direção de José Celso, que ocupa o palco do Teatro Brasileiro de Comédia, TBC. O Oficina sofre um incêndio e, para empreender a reconstrução, Ítala centraliza a administração da remontagem de três antigos sucessos, viabilizando o levantamento de fundos, em 1966. Ainda nesse ano, faz o papel de filha de O Sr. Puntila e Seu Criado Matti, de Bertolt Brecht, contracenando com Jardel Filho, numa montagem carioca de Flávio Rangel. Em 1967, na temporada carioca de Pequenos Burgueses, o Oficina está quase reerguido, transformado num teatro à italiana, equipado com palco giratório, com projeto de Lina Bo Bardi. O texto escolhido para a reabertura é O Rei da Vela, de Oswald de Andrade.

Estreado em 1967, Ítala interpreta Heloísa de Lesbos, acrescentando à figura definitiva contribuição pessoal. Projeta-se como atriz de irresistível carisma. Ao lado de seus louvados dotes físicos, a atriz impõe seu talento e inteligência. Quando da temporada carioca, sai a reportagem Esta Mulher É Livre, na revista Realidade, transformando-a, da noite para o dia, em celebridade nacional. Assumindo com inteira sinceridade - mas também muita coragem - sua condição feminina emancipada, Ítala encontra-se no auge de sua exuberância, como soberana figura feminina do grupo teatral de maior repercussão de um país que, ainda tradicionalista e machista, interpreta sua postura desabrida sobre o sexo e a vida como escândalo.

Nesse clima aclamatório ela parte para Paris, logo a seguir. Como bolsista do governo francês, vive meses decisivos acompanhando de perto não só a produção teatral como, entre uma estréia e outra, as assembléias estudantis na Sorbonne. Na eclosão da greve geral de maio de 68, todo o grupo está reunido na Europa, para as apresentações de O Rei da Vela na França e na Itália. O forte impacto dos acontecimentos não deixa de estar presente na criação seguinte do Oficina: Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, 1968. Ítala vive Virgínia, a filha do físico e matemático, noutra elogiada interpretação. Para a revista Leia ela escreverá, tempos depois, sobre a condição da mulher no teatro brechtiano, destacando o modo como são as mulheres retratadas em Galileu: "Há dois tipos de tirania com relação à mulher e ao povo - a da violência e a da alienação social, que são produto do mesmo sistema divisório de uma sociedade classista e sexista (...) de um lado Galileu, Federzoni, o Pequeno Monge e Andréa fazem experiências para provar as 'manchas solares', eles desvendam as estrelas; no lado oposto estão Virgínia, bordando, e D. Sarti, costurando; elas falam de horóscopo...".1


A crise dessa alienação social irá desfigurar Maria, a nova personagem de Ítala em Na Selva das Cidades, outro texto de Brecht montado pelo Oficina em 1969. O espetáculo estréia com seis horas de duração, encurtado depois: um imenso laboratório que acrescenta inúmeros desdobramentos para cada cena e cada situação. Maria, jovem ingênua que vem do campo para a metrópole, será por ela tragada, reduzida à prostituição. Numa cena antológica, ao declarar seu amor pelo malaio Shilink, Maria se despe. É este o primeiro nu frontal enfrentado por uma atriz no teatro brasileiro - e com iluminação plena. Dele Ítala dá conta com a maior singeleza poética, contribuindo para tornar inesquecível toda a sólida proposta estética de José Celso Martinez Corrêa. Após vitoriosa carreira em São Paulo e no Rio de Janeiro, a excursão segue para Minas Gerais; mas a montagem extravasa seu conteúdo ficcional, em cenas de curra e violência.

Em Belo Horizonte, Ítala é lançada no meio da platéia por um dos atores. A incontida agressividade do espetáculo passa dos limites e, marca, a partir de então, um conflito que ela enfrenta com alguns dos novos integrantes do Oficina, incorporados após Roda Viva, direção de José Celso para o texto de Chico Buarque, no Rio de Janeiro. A crise desencadeada faz cada um dos sócios tirar férias para repensar o projeto comum.

Ítala está vivendo, nesse momento, um relacionamento com o cineasta Luiz André de Souza Faria, e aceita filmar Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra, e Pindorama, de Arnaldo Jabor, em 1970. O Oficina, novamente reunido, decide fazer um filme, denominado Prata Palomares. Rodado em Florianópolis, a produção é confusa e um irremediável conflito divide André Faria e José Celso Martinez Corrêa. Sem este, a produção do filme prossegue. Para Ítala, porém, novos conflitos se avizinham, depois da chegada do Living Theatre e do grupo Lobos para trabalharem com o Oficina. Discordando dessas propostas, ela afasta-se definitivamente do grupo.

A partir de então, Ítala, morando no Rio de Janeiro, se lança numa série de projetos pessoais, atendendo, em cada nova fase, a desígnios nem sempre claros, mas convergentes para sua realização como atriz e como mulher. Nos palcos conhece momentos díspares, como as mal-sucedidas O Ministro e a Vedete, de Hannequin e Weber, em 1974; Simbad, o Marujo, criação coletiva, com direção de Luis Antônio Martinez Corrêa, do Grupo Pão e Circo, em 1975; Brida, de Paulo Coelho, dirigida por Luiz Carlos Maciel, em 1992. Ao lado de sucessos e interpretações vigorosas, como em As Criadas, de Jean Genet, ao lado de Dina Sfat, em 1981; Édipo Rei, de Sófocles, com direção de Marcio Aurelio, em 1983; Amor em Campo Minado, de Dias Gomes, com o diretor Aderbal Freire Filh (Aderbal Júnior), em 1984.

No cinema cria personagens densas e marcantes, como em Guerra Conjugal, de 1974 ; Barra Pesada, de 1977; O Homem do Pau Brasil, de 1981. Dirige o documentário In Vino Veritas, em 1980. Na televisão integra, em períodos diversos, novelas, seriados e casos especiais, sempre com presença marcante. Dirige, em 1990, o documentário Índia, O Caminho dos Deuses.

Desde os anos 90 dedica-se a um projeto pedagógico, dirigindo um centro de formação de atores na UniverCidade.


Escreve Oficina, Onde a Arte Não Dormia, em 1989, relatando seu período naquele grupo teatral, além de poesias e trabalhos com traduções. Volta aos palcos em 2000, para produzir e interpretar Vassah, a Dama de Ferro, de Máximo Gorki, em grande forma.

Ítala despertou inúmeras demonstrações de afeto e reconhecimento. Do poeta Joaquim Cardozo mereceu Poema Para a Nudez de Ítala Nandi:


Ítala Nandi despiu-se

Tirou suas roupas desnecessárias

E não conseguiu ficar nua:

Sua bunda, seus seios minúsculos, sua babaca pequenina,

São as mesmas da primeira nudez em que nasceu.

Apenas ficou lisa

Apenas entrou na periferia

De um corpo nu pintado: de Cranach ou de Balduing.

- Nudez de Eva, a primeira mulher.

Ítala Nandi, porque escondeste

Por tanto tempo a todos nós

Tua santa e secreta nudez?

Tua nudez sagrada

Nudez para ser beijada

Com esse nu, tão assim de superfície

Todo o teu esforço no sentido da arte erótica

Onde a platéia e os atores são os mesmos,

Dás apenas o efeito tátil de pouca penetração

Com essa primeira e indígena nudez

Ítala Nandi, é quando te vestes

Que ficas nua. 2

Em 1970, fez os filmes Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra, Pindorama, de Arnaldo Jabor, e Prata Palomares. Depois, participou de Guerra Conjugal, de 1974 ; Barra Pesada, de 1977; O Homem do Pau Brasil, de 1981. Dirigiu o documentário In Vino Veritas, em 1980.

Na televisão integrou, em períodos diversos, novelas, seriados e casos especiais:

2007 - Caminhos do Coração
2005 - Prova de Amor
2003 - A Casa das Sete Mulheres (minissérie)
1996 - Colégio Brasil
1994 - 74.5 Uma Onda no Ar
1990 - Mãe de Santo (minissérie)
1990 - Pantanal
1989 - Que Rei Sou Eu?
1987 - Direito de Amar
1979 - O Pulo do Gato
1964 - Melodia Fatal


Desde os anos 90 dedica-se a um projeto pedagógico, dirigindo um centro de formação de atores na UniverCidade em Curitiba - PR.

Em 2007, Itala esteve no elenco da novela "Caminhos do Coração", na Record, encerrando sua participação em 2008.








Matheus Logan

2 comentários:

Anônimo disse...

acheio muito feio postar fotos dela pelada, estragou o blog ¬¬'

poste as biografias, precisa dessas fotos? tem tantas outras

triste com o blog...

Caminhos do Coração disse...

As biografias sempre vem com fotos, e essas fotos não foram pga de ensaios pornográficos e sim vinda do próprio site Dramaturgia Brasileira, onde não é impróprio para ninguém, certo?
Se um site de grande categoria coloca as fotos inclusive essa, pq um blog pequeno não vai colocar?
Me espelho para criar o blog em site bons e não qualquer site.