sexta-feira, 20 de junho de 2008

"Minha inspiração é infinita" diz Tiago Santiago




Uma procura por críticas à novela Caminhos do Coração quase sempre resulta numa palavra-chave: trash. Já virou lugar-comum classificar deste modo a trama de Tiago Santiago, que passa na Record e que mudou de nome - para Os Mutantes - e de horário - para concorrer diretamente com A Favorita, da Globo. Tiago, em conversa por telefone, afirma que essas críticas não passam de uma "campanha sistemática da concorrência, que diz que nosso trabalho não tem qualidade". E continua: "Isso é um desrespeito com os profissionais. Temos muitos artistas e técnicos competentes".

Quando estreou, em agosto do ano passado, Caminhos do Coração tinha uma penca de tramas, para, no caso do núcleo de mutantes não agradar, a trama ter para onde correr. Só que os mutantes viraram a mesa do jogo. Eles eram 10, entre 50 personagens no início e agora já são metade, num elenco de 70. Os primeiros seres são resultado de manipulação genética numa clínica de Guarujá. Só que não demorou muito e lobisomens e vampiros apareceram e, com estes últimos, todo um núcleo de pessoas que se tornaram vampiros por causa das mordidas no pescoço.

Não é a primeira vez que assuntos extraordinários aparecem na televisão. Dias Gomes inaugurou o gênero realismo fantástico com Saramandaia, onde vários personagens viviam entre esses dois limites. Tiago Santiago teve Dias Gomes como inspirador, e diz que adorava Saramandaia. "O gênero da minha novela é realismo fantástico, mas ela é pioneira em usar o realismo fantástico pelo viés da ficção científica", diz ele.

Os efeitos especiais, provavelmente, são os maiores encalços da novela. Embora a Record tenha disponibilizado muito dinheiro para fazê-los, eles não são bons. Os lobisomens, por exemplo, não interagem bem com o cenário. E as cenas são difíceis de serem feitas. "Dá trabalho, os atores cansam, por causa dos cabos, equipamentos, mas todo mundo adora fazer a novela", diz Tiago.

A julgar pelos números do Ibope, a Record vem conseguindo um grande êxito. Os Mutantes fica na faixa dos 20 pontos e perturbou a primeira semana de A Favorita, que chegou a dar 24 pontos. Mas até quanto tempo pode durar a fórmula d´Os Mutantes? Uma novela diária não esgotaria logo as histórias? Tiago responde que não. "Minha inspiração é infinita. Temos milênios de história e lendas, em todos os povos, para me inspirar", conclui.




Realismo fantástico em outras novelas

Saramandaia (1976), de Dias Gomes.
Novela que inaugurou o realismo fantástico na TV. A cidade é palco dos maiores absurdos: João Gibão (Juca de Oliveira) possui asas, Zico Rosado (Castro Gonzaga) solta formigas pelo nariz, Dona Redonda (Wilza Carla) explode de tanto comer, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) ameaça cuspir o coração toda vez que se emociona, Marcina (Sônia Braga), quando excitada, fica em brasa, queimando tudo o que encosta e o professor Aristóbulo (Ary Fontoura), além de virar lobisomem, há anos que não dorme, tendo em suas andanças noturnas se encontrado com Dom Pedro I e Tiradentes.

Vamp (1991), de Antônio Calmon
Grande sucesso do horário das sete, Vamp marcava 51 pontos no Ibope, mais que o Jornal Nacional e O Dono do Mundo, a novela das oito. O vampirismo foi o inspirador da trama e o visual gótico foi muito imitado pelas pessoas. Vamp tinha referências a vários filmes e livros vampirescos de forma indireta, como A dança dos vampiros, Os garotos perdidos, A hora do espanto, O vampiro Lestat e Drácula, entre outros.


Pedra sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva
O realismo fantástico esteve presente nesta telenovela, através da flor de Jorge Tadeu (Fábio Júnior), que enlouquecia as mulheres que a comiam; do personagem Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que sofria nas noites de lua cheia, por se sentir atraído por ela e pela personagem dona Quirina (Miriam Pires), que, apesar dos 120 anos, tinha uma memória prodigiosa.


A Indomada (1997), de Aguinaldo Silva
Destaque para a lenda do Cadeirudo, um homem que saía saltando, de forma aterrorizante e ao mesmo tempo cômica, atrás das mulheres que andavam à noite pela cidade, algo parecido com o bicho-papão. Ao final da novela, descobriu-se que a figura era a beata Lourdes Maria (Sônia de Paula) que só queria zelar pela lei e bons costumes. Uma das cenas mais marcantes foi a morte aterrorizante de Maria Altiva (Eva Wilma) que depois de carbonizar, vira fumaça e sobe pelos ares de Grenville aterrorizando toda a Cidade dizendo a seguinte frase "me aguardem, eu voltarei". Teve até uma noite em que apareceu duas luas cheias. Scarleth Mackenzie (Luíza Tomé) ficava excitada nas noites de lua cheia. Só que nesta noite de lua cheia, o marido, Ypiranga Pitiguary (Paulo Betti), estava preso. A ação da lua em Scarleth foi tão forte que ela atravessou as barras da cela para "nhanhar", como ela dizia, com o marido.




Fontes: Jornal O POVO
Matheus Logan

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